Mudanças climáticas e segurança hídrica

Mudanças climáticas e segurança hídrica

Elzio Mistrelo – Diretor Administrativo e Financeiro da Apecs e coordenador do Boletim do Saneamento.

Mudanças climáticas e segurança hídrica

Elzio Mistrelo (*)

Detentor de uma das maiores bacias hídricas do planeta, com 10% da água doce de todo o mundo, o Brasil não está distante de enfrentar a falta de água. Até mesmo a região Amazônica, banhada pelos maiores rios do mundo, não conseguiu passar ilesa por uma forte crise, que reduziu drasticamente a vazão de rios, trazendo sérios riscos para a população da região.

As mudanças climáticas vêm afetando, cada vez mais, o dia a dia de todas as nações e a segurança hídrica se tornou um quesito fundamental para a sobrevivência da população, bem como pode se tornar um fator de impedimento do crescimento econômico, trazendo riscos irreversíveis para as localidades afetadas.

A gestão hídrica se tornou essencial para os municípios brasileiros. O planejamento precisa ser regionalizado e com propostas de curto, médio e longos prazos, diante da mobilidade social de cada localidade. Os estudos devem prever ações de proteção florestal, bem como das nascentes de água. Enfim, uma equipe de especialista poderá analisar a região e propor as melhores soluções para todo o ciclo da água e a garantia de abastecimento para a população.

Um estudo realizado pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra o avanço acentuado do clima semiárido no país. Pela primeira vez, os cientistas identificaram uma região árida no centro-norte da Bahia, com uma escassez forte de chuvas. De acordo com as pesquisas, os processos de desertificação podem se acelerar nas próximas décadas e se expandir para outras regiões do país, com impactos para a produção de energia e agropecuária brasileira.

No Brasil, somente 667 municípios, que agregam 4% da população urbana brasileira, estão classificados com segurança hídrica máxima de acordo com o Atlas da Água, elaborado pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA). O documento mostra ainda que 2.143 localidades apresentam classificação de alta segurança para os seus 50,2 milhões de habitantes. O país tem ainda 40% da população urbana – 77,3 milhões de brasileiros – morando em locais com segurança hídrica média. Infelizmente, 50,8 milhões de pessoas ainda habitam regiões com segurança hídrica baixa ou mínima.

Por outro lado, vivemos uma das maiores contradições, que é o desperdício. Ainda hoje, aproximadamente 40% da água tratada não chega às torneiras das moradias brasileiras, segundo dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS). Diariamente, desperdiçamos o equivalente a 7,8 mil piscinas olímpicas. A meta é reduzir esse indicador para próximo de 25%, volume suficiente para abastecer cerca de 40,4 milhões de pessoas no período de um ano.

Os municípios devem promover a adequada gestão do sistema de abastecimento de água como forma de ampliar o atendimento à população e reduzir significativamente as perdas, principalmente aqueles que ainda dispõem de tubulações antigas.

A água é um bem essencial e regiões metropolitanas já têm sofrido com a necessidade de racionamento diante da escassez provocadas pelas mudanças climáticas. As soluções já estão ao alcance dos municípios. É preciso compromisso para avançar na gestão hídrica como forma de evitar o risco de desabastecimento no futuro.

(*) Elzio Mistrelo é engenheiro, Diretor Administrativo e Financeiro da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e coordenador do Boletim do Saneamento.

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