Investimentos em infraestrutura subterrânea não eram considerados prioritários por muitas administrações. Um descaso que perdurou por inúmeras gestões públicas federais e estaduais Brasil afora
*Thiago Rossoni
Durante muitos anos na história brasileira, ouvimos que “obras debaixo da terra não davam voto”. A cartilha político-partidária rezava que projetos que não fossem “visíveis” não seriam lembrados pelo eleitor no próximo pleito. Investimentos em infraestrutura subterrânea, como saneamento básico, redes de água e esgoto, e sistemas de drenagem, não eram, assim, considerados prioritários por muitas administrações.
Um descaso que perdurou por inúmeras gestões públicas federais e estaduais Brasil afora e culminou em números que ainda preocupam. Segundo dados recentes, 16% da população do país, ou quase 35 milhões de pessoas, não têm acesso à água tratada.
Felizmente os tempos mudaram e, sobretudo, a partir do século passado, o tema passou a ganhar mais espaço e força nas agendas públicas. Os governos começaram a entender que oferecer esse serviço vai além de garantir bem-estar para as comunidades.
Implica em reduzir problemas de saúde da população; diminui gastos públicos com tratamentos e internações hospitalares; impacta na promoção do desenvolvimento sustentável e fortalece a economia de qualquer região. Garantir a disponibilidade de água limpa e tratada também ajuda a preservar os recursos hídricos; evita o desperdício e a poluição de rios, lagos e aquíferos; ajuda a conservar a biodiversidade e os ecossistemas naturais. Água é vida!
Uma premissa que precisa estar muito clara não só para os gestores públicos como para as empresas que se propõem a criar mais centros urbanos. Com o crescimento populacional e a demanda por mais bairros residenciais, a atenção dos novos projetos imobiliários precisa estar focada em oferecer, desde a sua concepção, os principais serviços para a qualidade de vida não só dos seus futuros moradores, como da região onde são instalados.
No Espírito Santo, as loteadoras sabem desta relevância e operam a partir dela. Um exemplo está na recente inauguração, em Aracruz, de um sistema de abastecimento para a região Norte, no bairro Vila Nova. O reservatório, construído para um loteamento, foi incorporado ao patrimônio do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) para operar, manter e reintegrar os ativos e conta com redes de distribuição e elevatórias que beneficiarão mais de 8,3 mil pessoas da região e futuros moradores dos bairros Residencial Felicidade, Alegria, Villa Santi II, Aracruz XII, Jocafé, Morada Park, Veneza, Royal Garden e Recanto dos Lagos; alguns deles, inclusive, planejados e criados por uma empresa privada do segmento de loteamentos. O investimento, proveniente de empresários que firmaram parceria com o SAAE, foi de R$ 3,5 milhões.
Efetivar ações conjuntas como essa, unindo atores diversos da sociedade, é essencial para a concretização de projetos que entreguem serviços eficientes e necessários para a sociedade, e que contribuam para a construção de um futuro mais sustentável.
Aqui, pelo menos quando se trata de garantir saúde e bem-estar para as pessoas, a velha máxima de que “o que não é visto, não é lembrado” não funciona. Ao contrário, promover melhorias e gerar soluções em serviços “escondidos”, mas tão essenciais como a oferta de água, serão lembrados por essa e pelas próximas gerações.
*Thiago Rossoni é engenheiro civil, gestor de licenciamentos da CBL e membro do grupo de loteadores associados à Ademi-Secovi-ES.
Artigo publicado originalmente na A Gazeta
Reproduzido aqui com autorização do autor.